Resquícios de uma brisa

Nos resquícios de uma brisa veleja o tempo
Empoleirado num barbitúrico silêncio atordoado
Cobiça toda a metafísica de um murmúrio quase asfixiado

Nos resquícios de uma brisa o tempo embriaga-se de beijos
Tão ardilosamente, tão entusiasticamente serenos e inspirados
Despenteia duas lágrimas caindo pelos cílios de um desejo desvairado

Nos resquícios do tempo cada segundo desvela uma súplica conspirada
Faz uma comício no pelourinho das palavras exaltadas…ali entrincheiradas
Desfragmenta-se num exíguo silêncio latindo entre luminescências tão apaixonadas

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Talvez em Abril…

Talvez em Abril o dia fotografe aquela luminescência
Tão tosca, tão inacabada…quase sempre inimputável
E numa cilada algeme cada sorriso tântrico e insaciável

Talvez em Abril eu esconda das palavras uma rima mais viril
Sinta o rito das minhas angústias orquestrar cada eco febril
E à porta do céus duas lágrimas desabem num aguaceiro tão gentil

Talvez em Abril os cravos renasçam livres, mágicos tão esfomeados
Ali um heroico sussurro, desmantelará um rubro afago assoreado
Exuberante incitará o tempo a eternizar cada desejo, cada beijo enamorado

Talvez em Abril eu pincele os céus de azuis tão plissados, coloridos e afáveis
Num relance melódico cada hora apascente todos os imperdíveis sonhos imutáveis
E num close final faça adormecer o silêncio detido no antro das palavras inimagináveis

FC

Quem pinta o sol

Quem pinta o sol pintalga os beirados do céu
Onde reside a solidão clonada por um afago angustiado
Onde o tempo se despe e desnuda num lamento tão desconsolado

Quem pinta o sol amplia o poente até ele adormecer sereno e apaixonado
Deixa na ressaca do dia um beijo diluir-se no palato dos desejos desesperados
Com elegância e finura asfixia os mais milimétricos sussurros tão, tão ansiados

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Numa nesga de tempo

Numa nesga de tempo o tempo esconde-se tão embaraçado
Deixa que cada hora se proste algemada a um eco sextavado
Iluminando todas a geometrias de um murmúrio quase encurvado

Numa nesga de tempo todos os silêncios fenecem coadjuvados por
Serenas brisas velejando pelas margens serenas da solidão tão estouvada
Deixam repruir todos os segundos anexos ao pungir de uma prece desejada

Nas frágeis asas do tempo esvoaça um azul incandescente e afervorado
Pleiteia no horizonte onde se ouve o zimbrar dos meus lamentos flagelados
Faz até zurzir o silêncio escorrendo pelos tímidos e solícitos olhares vendados

FC

Trago o silêncio no paladar

Das minhas veias escorre um silêncio sereno e triunfal
Trauteia uma melodia velejando nesta escuridão escultural
Traveste a noite maquilhada por esta luminescência descomunal

Trago no paladar este silêncio tão frágil, tão volátil, quase vulnerável
Apascenta a mais magnânima prece desenhada num luar imensurável
Algema todas as palavras vagueando no colírio das lágrimas tão indecifráveis

Às duas por três o tempo expande-se a cada segundo felino e resignado
Adormece na cripta da solidão estendida no dorso de um olhar sacrificado
A rogo e em souplesse o silêncio amplia cada eco feérico, fecundo e adocicado

FC

As curvas elípticas perfeitas

Escrevi o link do silêncio e enviei-o à socapa
Para as páginas do tempo que ali fenece tão extasiado
Tão febril está a manhã de que me enamoro assim mui deliciado

Nas curvas elípticas da solidão a luz fibrilha e batuca quase asfixiada
Aromatiza qualquer brisa indelével amordaçada a cada palavra deslindada
Apascenta todos os milésimos segundos decrépitos fluindo numa hora pacificada

FC

Depois de Março…

  • para a Carla e Noemi

Dormitei dentro dos meus sonhos e deixei
Que Março fluísse veloz, voraz e silencioso
Até que feneça com estrondo cada eco infeccioso

Depois de Março escuto chegar a Primavera deambulando
Entre a curta-metragem dos meus lamentos mais facciosos
Fertilizando cada segundo que vadia pela derme dos afagos contagiosos

Depois de Março o tempo clonará minhas preces tão parcimoniosas
Deixará nos umbrais da vida um cacho de coloridas brisas deliciosas
Mesclará minha solidão com carícias suscitadas numa gargalhada mui graciosa

O que virá depois…

  • para o Lucas

O que virá depois seguirá minha solidão tão astuta e alcoviteira
Indumentará os lamentos que pernoitam numa palavra sorrateira
Alimentará o tédio das emoções alavancadas nesta tristeza tão rotineira

O que virá depois silenciará o tempo perfumado num nardo eco balsâmico
Fará dos despojos do dia o mais inabalável murmúrio sereno e hidrodinâmico
Orquestrará a prosódia de vocábulos gemendo neste reportório de sonhos panorâmicos

FC